terça-feira, 10 de maio de 2011

Dia das mães - Ontem, hoje, amanhã e sempre!


Relembrando os anos
(Davy Kemp)

“Os olhos procuram incessantemente a luz no fim do túnel, sem perceber que o fim já chegou, que a luz está ali, sempre esteve a todo tempo, mas só pode enxergar a luz, aqueles que a possuem, pois a luz não está no fim do túnel, mas dentro de si mesmo, e ao que parece, apesar de parecer impossível, essa luz pode e foi roubada.”

Vou descrevendo a minha vida em linhas, e expondo ao mundo sem medo da conseqüência que isso possa vir a ter, estou mudando, eu mudei, não sou mais aquele adolescente que vivia na casa de sua mãe tão cheio de medos e responsabilidades, eu perdi minha família, não por morte, não por sentimentos, mas por vinculo. Não estou mais vinculado àquelas por quem dei a minha vida, por quem eu venderia minha alma para ver feliz, o que é um desastre, um erro de percurso que não fui eu que cometi.
Vou relembrando os anos e vendo como isso pesa no fluxo que minha vida vai tomar daqui para frente, porque na verdade eu estou desacreditado, é fato, minha triste verdade, minha dor mais amarga. A realidade é que tenho em minhas mãos a minha liberdade que nunca sonhei, que nunca desejei, aquela que outras pessoas na minha idade sonham tanto ter, mas eu, eu queria um colo de mãe, apenas isso.
Queria chegar em casa e ver minha família, que éramos apenas minha mãe, minha irmã e eu, ver que o dinheiro estava acabando, mas tínhamos nós três ali fortes, de mãos firmes e unidas uma a outra, formando um pequeno círculo que nenhum problema poderia romper, ninguém poderia adentrar sem nossa autorização, sem nossa permissão.
Só que a vida vou ousada e ofereceu caminhos diferentes a cada um de nós, e como sempre tem alguém que direciona seus olhos ao ponto errado e vai de encontro àquilo que não lhe pertence, as aventuras, algo que não lhe pertence, um sonho que não é seu, ou se é, é só seu, sem incluir aquelas pessoas que lutaram para você chegar onde você chegou.
Eu lutei por essas duas almas sacrificando muitas vezes a minha, deixando de viver a minha vida, buscar meus sonhos, minha futilidade. Sim, muitas vezes quis ter coisas superficiais como os adolescentes de minha idade tinham como fazer viagens com os amigos, sair para beber, fazer sexo, mas para mim essas coisas eram proibidas, não pela religião cristã que eu seguia, mas pelos meus princípios e pela minha necessidade insaciável de ser não só um bom filho, mas o melhor que uma mãe gostaria de ter, responsável, forte, para que ela tivesse orgulho não de mim, mas dela mesma por ter criado sozinha um filho e ter feito dele uma boa pessoa.
Confesso que não me arrependo de nada que fiz, apesar de as vezes pensar o contrário, eu só queria ter essa necessidade de continuar sendo uma boa pessoa e não ter essa liberdade para errar e ser irresponsável que tenho agora, pois isso pesa, é como dar alforria a um escravo sem lhe dar condições de vida, libertar um pássaro de uma gaiola de com asas quebradas. Me sinto um recém nascido na porta de uma igreja a espera que alguém me encontre e cuide de mim, que diga que não estou só, pois eu não tenho culpa do que aconteceu comigo.
As vezes em noites como a de hoje tento chorar, mas as lágrimas não me saem. Eu não aprendi a chorar, me fiz orgulhoso, eu não sei dizer que sofro sem ser com palavras, minhas palavras choram por mim, esse é meu meio de externar para o mundo a minha dor, é por elas que eu choro, que alivio esse vazio massacrante que tem se tornado minhas noites, e que sei que ninguém além de uma família de verdade poderia preencher.
Não desmereço meus amigos, de forma alguma, eles estão sempre comigo de uma forma de outra, mas muitas pessoas vem e vão de nossas vidas, mas uma família, uma mãe é para sempre, e se tem uma coisa que eu aprendi é que eu nunca rompi o cordão umbilical, pois onde quer que eu vá minha mãe está ligada a mim. Seja no momento que eu respiro o ar e agradeço a Deus por está vivo, por uma vida que ele me deu, mas foi ela quem me trouxe a vida, ou até mesmo quando me revolto pela dor, e lembro que essa matéria que me acompanha é um pedaço dela que formou o que sou, uma pequena parte que formou tudo que sou agora.
Vou relembrando os anos, uma época em que minha infância só fez machucar, diante de tudo que não queria ter vivido, de tudo que jamais poderei mudar, eu vou vendo o tanto que perdi e nada mais tenho a perder de tanto valor. Nada mais a vida pode me tirar, aliás, só há uma coisa, ela pode levar de vez a única coisa que me resta, o motivo que me mantém vivo, minha mãe, porque quando eu vir a perdê-la totalmente, tudo em mim estará perdido.
Relembrando os anos, agradecendo a Deus apenas por ter vida para assistir tudo isso mudar, mesmo sem esperanças, sem fé, sem acreditar, mas no fundo uma falsa certeza de que mereço bem mais do que isso que tenho em minhas mãos, e por uma questão de justiça, eu haverei de encontrar luz diante de tanta escuridão a qual me encontro agora. Queira Deus que eu tenha força os bastante para aceitar as mudanças que estão por vir seja elas quais forem, porque tanta alegria sei que não seria capaz de receber de uma vez, e dor, já não suporto mais, estou com minhas carnes suspensas em um gancho que me rasga por completo, me destrói, e me deforma. E ainda que pareça ser o mesmo, ainda que eu me considere o mesmo, não sou a mesma pessoa que ela um dia pôs em seus braços, beijou, e chamou de meu filho. 

Um comentário:

Geri Halliwell

Geri Halliwell
Por que ficar guardando as coisas? Você nunca deve deixar que as suas posses o dominem.