Blogando e pesquisando pela rede Blospot.com, encontrei esta postagem, e decidi partilhar:
Esta é uma pergunta muito comum, do senso comum (por isso a coloquei entre aspas), emrelação à homossexualidade. Em muitos casos, infelizmente, há pessoas que chegam a afirmarisso de modo categórico.
A homossexualidade é um fetiche da curiosidade de nossa sociedade que praticamente criminaliza esse tipo de orientação. E se a homossexualidade é fetichizada, a homossexualidade masculina o é ao quadrado. E ao verbo “fetichizar” atribuo o sentido de darum valor excessivo ao que quer que seja. Se fetichiza é porque ressalta demais, valoriza demais. É atenção, curiosidade e xeretice demais em relação ao tema.
As pessoas querem logo a resposta, querem logo saber a causa – como se tudo necessariamente pudesse ser explicado ou determinado por uma única causa. Se nasce assim ou se aprendeu; se é uma condição ou uma escolha.
Mas Freud logo adverte: se a homossexualidade é representada como um mistério, isso também deveria caber à heterossexualidade. Para ele há de se perguntar pela gênese tanto de uma quanto de outra. Pois para a psicanálise todos nascemos, vamos assim dizer, “bissexuais”. A orientação originária é a bissexualidade. A monossexualidade, seja ela hetero ou homo, sócom o decorrer do desenvolvimento. Neste sentido, psicanalítico, nascemos bissexuais e aprendemos a ser hetero ou homo. se dá
E o termo aprendizagem, para o senso comum, também adquire alguns sentidos que não os adotados pela Psicologia. Basta dizer que é aprendido, para alguém já logo pensarque deve haver alguém, alguma pessoa que ensina. Para não me estendermuito sobre isso, resumo: aprendemos o tempo todo, e o mundo (incluído aí o mundo das coisas) equivocadamente ensina.
Mas ouço muito, da boca de muitas pessoas, inclusive e infelizmente, penso eu, de algunsalunos: “homossexualidade é opção”. Já ouvi até mesmo gays dizendo isso. Penso da seguinteforma: é uma frase muito genérica e vaga para uma questão tão complexa. É tão vaga que adquirir diversos sentidos. pode
Uma vez vi na televisão um gay dizendo isso: “é uma opção, sabe”. Ele se sentia como umpaladino da liberdade ao dizer isso. Dizia com gosto, com orgulho que era uma escolha, uma opção.
Há também, e com muito mais freqüência, pessoas conservadoras e machistas que dizem isso. E o sentido subjacente costuma ser: “se escolheu isso, poderia ter escolhido o contrário; sofre preconceito porque quer; seja homem!”. Ou então: sendo opção, logo é safadeza, moda oufalta do que fazer.
E a grande questão é: então o homossexual escolhe isso, ser uma espécie de pária da sociedade? Alguém escolhe isso para sua vida: ser discriminado, diminuído, excluído, maltratado e humilhado? Sim, pois é exatamente assim que os homossexuais são tratados. Se a homossexualidade é uma opção, então completemos a frase: é opção e masoquismo. Poissomente alguém que tem prazer em sofrer é que poderia escolher esta opção.
E mesmos os masoquistas, fique bem claro, nunca o são de modo genérico. Não existe esta história de simplesmente gostar de sofrer. Ninguém é masoquista pra tudo. Pois o masoquismo, em termos comportamentais, muitas vezes nada mais é que efeito da associaçãoentre dois estímulos: um prazeroso e outro doloroso. Masoquistas costumam ter prazer comcoisas muito específicas, as quais são exatamente aquelas que foram associadas com alguma forma de prazer muito significativa já vivenciada.
Se a orientação sexual é uma opção, logo as possibilidades são as mesmas para todo mundo. Logo, somos todos, como pretendia Freud, originariamente bissexuais. Eis aí o paradoxo do senso comum: enuncia uma regra que, por implicação lógica, estabelece a bissexualidade como universal, coisa que o próprio senso comum rejeita.
Se a orientação sexual é uma opção, logo existe escolha consciente. E pode se dizer que se trata de algo mais ou menos parecido com, por exemplo, o ato de votar: você vai lá e marcaum x. Portanto, chegam a ser ridículas as implicações lógicas que tal bobagem produz.
Porém, continuemos, até o absurdo. Sim, pois todo equívoco desemboca no absurdo.
Primeiro as definições:
1. Homossexualidade é a predominância de atração sexual por pessoas do mesmo sexo.
2. Heterossexualidade é a predominância de atração sexual por pessoas do sexo oposto.
3. Bissexualidade é a atração sexual por pessoas de ambos os sexos, sem a predominânciasignificativa de qualquer orientação.
Se a orientação sexual é uma opção, logo as pessoas escolhem gostar disso ou daquilo, querer isso ou aquilo. E quem é que tem esse poder: escolher do que vai ou não gostar, querer?
Se a orientação sexual é opção, logo há conflito entre alternativas. Senão não haveria opção alguma. Enfim, resumindo: mais uma peça para a coleção gigantesca de besteiras do senso comum.
Fonte: http://inquilinosdoalem.blogspot.com/2009/06/homossexualidade-e-opcao.html